
VII SERNEGRA:
descolonizar o feminismo
De 18 a 21 de novembro de 2018
IFB - Campus Brasília (SGAN 610, L2 Norte - Brasília/DF)
ST01- Negros e Negras e a culinária
Tatiana Rotolo (IFB) & Giuliane Pimentel (IFB) VER COMUNICAÇÕES
A proposta desta seção temática é fazer uma reflexão a partir das contribuições, práticas e saberes de negros e negras na construção de um sistema culinário. Um sistema culinário, ou também chamado de sistema alimentar, pode ser definido como um conjunto de conhecimentos de povos e grupos sociais relativos aos usos de ingredientes, preparos, técnicas ou saberes sobre a alimentação, incluindo neste conjunto desde a produção até o consumo final do alimento. Um sistema alimentar pode ser abordado por diversas clivagens: relações de gênero e alimentação, práticas culturais, religiosas e sociais sobre os alimentos, incluindo a comensalidade, heranças e construções históricas ou divisão do trabalho na produção, preparação, distribuição e consumo dos alimentos, são exemplos de temáticas mais amplas sugeridas por esta Seção Temática. Nossa proposta, deste modo, visa abordar as contribuições e conhecimentos dos negros e negras sobre o alimento e a alimentação. Assim, temáticas como a participação de negros e negras na formação de um sistema alimentar, seja no Brasil ou em demais países, ou grupos sociais (como as contribuições dos saberes alimentares de comunidades quilombolas, por exemplo), regates de processos, técnicas e saberes de negros e negras em culinárias específicas (por exemplo, a participação do negro na construção de culinárias nacionais, receitas, processos ou ingredientes trazidos ou criados pelos fluxos da população negra no mundo), as relações entre a mulher negra e a culinária, seja seu papel nas religiões de matriz africana, ou seu papel na alimentação das famílias ou na produção tanto dos alimentos como dos pratos. Temas como o negro na culinária do Brasil, nas Américas e Caribe, os fluxos migratórios recentes e as contribuições dos povos da África negra na Europa hoje, as culinárias diversas dos países do continente africano, os ingredientes, saberes e pratos de comunidades quilombolas e semelhantes, as múltiplas relações entre alimento e religiões, especialmente as de matriz africana, são todos exemplos de temáticas de pesquisa e projetos participantes desta seção temática.
ST02- Narrativas afrodescendentes: literaturas, produções audiovisuais e resistência
Isabella Santos Mundim (IFB) & Edson de Souza Cunha (IFB) & Thiago de Faria e Silva (IFB) VER COMUNICAÇÕES
Na contramão de estudos focados em narrativas eurocêntricas, que centralizam a branquitude de criadores e personagens, propõe-se aqui uma seção temática cuja finalidade primeira é acolher trabalhos que analisam textos – literários e audiovisuais – de autoria e/ou temática afrodescendentes, sejam contemporâneos e/ou do passado, nacionais e/ou estrangeiros. Ficção literária de língua portuguesa que situa a ação no Brasil de século XIX ou em país africano em vias de descolonização; ficção literária de língua estrangeira que diz da experiência de habitar um corpo negro na América Latina, no continente africano, no continente asiático, na América do Norte ou na Europa; cinema brasileiro ou de outros países que confere protagonismo a sujeitos negros e pardos; séries televisivas, telenovelas e afins que retratam o dia a dia de quem traz na pele, escura, as marcas do estigma e da exclusão; histórias de mídias diversas que criticam e contestam os estereótipos étnico-raciais vigentes; todas essas narrativas e outras tantas desse viés configuram objeto de investigação de nosso interesse, em especial aquelas narrativas que se prestam a desafiar o discurso dominante (ainda e infelizmente) eivado de preconceitos. Nessa perspectiva, esta seção temática anuncia-se feito um espaço de debates antirracista, não-sexista e não discriminatório (não homofóbico, não lesbofóbico e não transfóbico). Em última instância, a expectativa e a esperança dos coordenadores da seção é propiciar, aos participantes do VII SERNEGRA, mais uma arena para a socialização de pesquisas que enfatizam perspectivas habitualmente ignoradas e amplificam vozes outrora silenciadas, e comprometida com questões de representatividade, visibilidade e empoderamento de homens e mulheres afro-brasileiros e afrodescendentes.
ST03 - Políticas Públicas de Igualdade Racial
Antonio Gomes da Costa Neto (SEEDF) & Eliete Gonçales Rodrigues Alves (UnB) VER COMUNICAÇÕES
& Meire Cristina Cabral de Araújo Silva (DNIT)
A Seção Temática propõe debater temas, trabalhos acadêmicos, reflexões, estudos, experiências, diagnósticos, análises institucionais, resultados de pesquisas e como essas se inserem nas Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial. A seção busca contemplar exposições sobre o ciclo-político das Políticas Públicas desde a montagem da agenda, formulação, tomada de decisão, implementação e a avaliação. De igual modo como os mecanismos de controle social têm sido efetivados, quais os instrumentos utilizados pela sociedade em relação aos resultados almejados e alcançados, e a expectativa da sociedade civil. Dentre os temas a serem debatidos podem ser ideias, conceitos, teses, pesquisas científicas, papel da sociedade, função do Estado, o sistema nacional, internacional de promoção e proteção de direitos. Logo, as discussões nas áreas da Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Direito à Liberdade, Consciência de Crença, Cultos Religiosos, Acesso a Terra, Moradia, Trabalho, Meios de Comunicação, Sistemas de Proteção Nacional e Internacional, Acesso à Justiça, Segurança, Controle Social, Controle Governamental, Fomento, Apoio as Iniciativas Populares, Economia, Defesa de Direitos, Reparação da Escravidão, Justiça Social, Eficácia e Empoderamento. Dessa forma pretende-se contemplar as formas de consecução, os modelos de reprodução no contexto das Américas, bem como discorrer como os mecanismos de Direitos Humanos, nas diversas esferas têm atuado na efetividade das políticas étnico-raciais do Brasil e das Américas. Portanto, partindo da premissa da existência de uma Política de Estado, a qual consagra princípios filosóficos e jurídicos, cuja finalidade é a desconstrução do racismo, e de que maneira contribui para a capacidade de produzir um pensamento social e político nas Américas.
ST04 - Discursos de gênero social e raça: caminhos para descolonizar relações de inclusão e exclusão
Cordelia Oliveira (UnB) VER COMUNICAÇÕES
Essa Sessão Temática (ST) tem como objetivo fundamental congregar trabalhos, estudos e pesquisas que tenham o Discurso (aqui compreendido como texto oral, escrito, visual ou multimodal) como seu principal objeto de estudo. Partindo desse ponto e, com base em análises pautadas em Análise de Discurso (AD) e em Análise de Discurso Crítica (ADC), a ST objetiva desvelar relações sociais de inclusão/exclusão que se pautam em gênero ou em raça ou na intersecção entre gênero e raça. Parte-se aqui do pressuposto que gênero social e raça são categorias constituídas por meio do discurso (e das práticas sociais que ele permeia) e que são social e historicamente situadas, por isso fazem sentido somente em determinado contexto e época. Com isso, pretende-se debater, por exemplo, 1) aspectos como as relações ideológicas que sustentam, fundamentam, legitimam e/ou (des)naturalizam discursos de inclusão/exclusão no eixo gênero e raça; 2) a forma com os discursos constituem identidades sociais de gênero e raça e como essas identidades podem ou não gerar identificação e sentimento de pertença, assim como elementos constituintes do gênero e/ou da raça são utilizados para (des)legitimar identidades enfraquecidas ou empoderadas; 3) o modo com os discursos disseminam representações sociais de gênero e/ou raça que podem ou são usados em favor da inclusão ou da exclusão social; entre outras temáticas que, de alguma forma, pensem o discurso como elemento fundante de práticas discursiva e sociais. Pretende-se, como resultado, focar criticamente os discursos produzidos em nosso meio social e refletir sobre estratégias para descolonizar discursos e práticas sociais.
ST05 - Cinema - Narrativas, identidades, diálogos e representações
Edileuza Penha de Souza (UnB) & Kênia Cardoso Vilaça de Freitas (UNESP) & Janaína Oliveira (IFRJ) VER COMUNICAÇÕES
A Seção Temática pretende congregar pesquisas que possam dotá-lo de parâmetros para as incessantes reflexões em torno do inexorável papel das imagens na constituição do humano, em diálogo permanente com as prodigiosas máquinas de produção do imaginário. Dessa forma, o ST acolherá estudos sobre o Cinema Negro, que reflitam desde os aspectos conceituais de sua definição, passando pela multiplicidade dos formatos narrativos (contemporâneos e históricos) dos filmes e obras, e os diversos elementos que atravessam o audiovisual. Partindo do princípio de que o Cinema Negro é um conceito político, social e estético, e por isso em constante processo de mutação e reafirmação das suas bases, o objetivo do Seminário é de ser um espaço que abarque reflexões sobre produções do cinema negro africano e/ou diaspórico. Enfocando a pesquisa sobre os filmes de realizadores negros e negras, que refletem experiência negra, denunciam e/ou combatem o racismo, as discriminações, os preconceitos e os estereótipos, bem como revelam diversidades e afetos. Nos últimos anos as questões referentes às representações e identidades etnicorraciais ganharam impulso renovado, constituindo-se tema de investigação das mais diversas áreas do conhecimento. Particularmente, no campo do audiovisual assistimos a um crescente interesse pela temática, que vem sendo explorada, teórica e metodologicamente, de modo interdisciplinar, ultrapassando fronteiras aparentemente rígidas para dialogar com várias áreas do conhecimento. Ao que parece, não há território interior no domínio do audiovisual. Com o avanço irrevogável dos dispositivos de produção de imagens, horizontes de investigação foram alargados, agregando-se a esse temário provocações advindas da esfera política; novos formatos, linguagens e dispositivos, como a publicidade, os documentários e seriados televisivos foram incorporados aos estudos; o fenômeno da auto-representação também se inscreveu como uma vertente importante; práticas e saberes gestados nas franjas dos discursos hegemônicos postularam lugar ao centro. Os cinemas do continente africano e da diáspora reivindicaram esse lugar. Discussões emergentes, a exemplo das tecidas na esfera da biotecnologia, com o pós-humano nucleando o debate, também perfilaram-se a arena das audiovisualidades. Para além do viés das representações, estudos sobre os modos de produção e veiculação adensaram o campo dos estudos étnico raciais. A título de ilustração, os modelos de produção adotados por coletivos de jovens, seja nas periferias e/ou universidades, para viabilizar suas produções revelam um novo/outro reordenamento dos modos de fazer. Movimentos estéticos, políticos e culturais contemporâneos também possuem um considerável impacto nas narrativas negras no audiovisual, como por exemplo o Afrofuturismo (que pensa a junção da ficção especulativa com a experiência negra diaspórica e africana). O Seminário Temático tem, portanto, o propósito de dar abrigo ao leque de pesquisas sobre audiovisualidades, identidades e representações, que têm sido trabalhados em programas de graduação e pós-graduação nas áreas das Artes, Ciências Sociais e Humanas. Os crescentes trabalhos de conclusão de cursos, pesquisas de iniciação científica, artigos acadêmicos, teses e dissertações centrados nas questões de raça e de suas interseccionalidade (de gênero, classe e sexualidade) atestam o inegável interesse sobre o Cinema Negro africano e diaspórico.
ST06 - Discursos, racismo e questões de gênero: entre falas e silêncio
Renata Waleska de Sousa Pimenta (IFSC) VER COMUNICAÇÕES
Essa seção temática tem por objetivo promover um espaço de análise, reflexão e discussão acerca dos discursos circulantes nos meios de comunicação diversificados a respeito das relações raciais e suas interlocuções com as questões de gênero. A abordagem teórica baseia-se na concepção de que os discursos são historicamente construídos e constitutivos dos sujeitos e estão em processo dialético contínuo de significação e ressignificação na sociedade, assim valores e compreensões acerca de grupos sociais como a mulher e LGBT's negras estão pautadas no racismo e machismo estruturante da sociedade brasileira. A proposta está voltada para a análise dos discursos promovidos em espaços de comunicação variados por entendermos que os traços socioculturais brasileiros estão presentes em múltiplos enunciados, como nos discursos acadêmicos, nas propagandas, nas relações profissionais e pessoais evidenciam as marcas do preconceito, do racismo, da discriminação e do machismo. O ST se ampara na ideia de que o mundo da linguagem é um universo de representações, de aparências, sendo que todo processo de produção de sentido passa por duas dimensões da semiose social, em que nada passa despercebido por essas dimensões. A primeira dimensão da semiose social é o campo ideológico, estabelecido pelo conjunto de regras formais impostas que são responsáveis pela geração de sentido. A outra dimensão é o poder instituído e disputado no processo de circulação dos sentidos que influenciam e determinam as relações sócias. Assim, em todo fenômeno social existe a possibilidade de leituras em relação às formas de representação social. A ideia de representação social ocupa um lugar fundamental nesse estudo, pois remete às subjetivações mentais, imaginárias que os sujeitos constroem a partir das condições materiais. Essas representações denotam uma construção a respeito do real em que os tensionamentos entre os grupos podem ser representados e revelam a configuração da estrutura construídas socialmente e reproduzidas em consonância com os interesses da cultura dominante. Essas construções representativas da realidade adquirem, muitas vezes, o caráter de verdade e assim se naturalizam a partir dos habitus e também dos discursos veiculados, logo as palavras adquirem um poder no mundo social e institucionalizam normas, valores e concepções, como a identidade, por exemplo.
ST07 - Remoldurando as margens: gênero, raça, intersecio-
nalidades pós-coloniais e decoloniais nas diásporas africanas.
Isis Aparecida Conceição (UNILAB) & Eunice Aparecida de Jesus Prudente (USP) VER COMUNICAÇÕES
"A categoria crítica de Justiça Racial, interseccionalidade, cunhada pela professora KImberlé Crenshaw, popularizou-se de forma marcante no Brasil com a mesma velocidade da popularização das redes sociais. É possível notar uma apropriação esvaziada das categorias no Brasil, reflexo de um fenômeno de ""convergência de interesses"" presente desde a formação do projeto de nação, em que liberdade e igualdade eram declaradas concomitantemente a regulamentação do escravismo. Assim, notamos a presença desta convergência de interesses no fenômeno de recepção da categoria raça dentro do movimento feminista, condição apresentada pelas mulheres negras para que essas permanecessem dentro daquele movimento social, mas que em razão da reticência estrutural em promover-se o debate sobre negrofobia no Brasil implicou numa recepção mitigada e diluída. Essa mitigação do potencial crítico inerente à categoria analítica é criticada pela linha de estudos decoloniais de epistemologias anticoloniais. Pensadores alinhados com a abordagem decolonial destacam a insuficiência de uma ferramenta epistemológica geográfica e cronologicamente deslocada do contexto em que é aplicada. O feminismo clássico, pós-colonial, crítico do machismo, colonial, não consegue pactuar de forma concreta com mulheres negras cujas demandas de intersecionalidade se apresentam (decoloniais). Diante deste contexto é que a categoria intersecionalidade, assim como outras categorias epistemológicas críticas de justiça racial, é imersa em uma estrutura “progressista” pós-colonial, e contaminada de forma reduzir seu potencial transformador. Várias são as feministas que ponderam sobre a questão de como a teoria interseccional trata questões de imperialismo e transnacionalidade, teóricos pós-estruturalistas vêm colocando questões sobre a natureza do tema face à pesquisa interseccional e teóricos de crítica racial vêm se dedicando à problemática de como a pesquisa interseccional aborda o tema racial. Tais análises críticas são as de nosso maior interesse no Brasil, pois manifestam preocupações relativas à obliteração das origens radicais da interseccionalidade, à sua aplicação generalizada enquanto ‘a teoria’ que serve todas as feministas, e à higienização da interseccionalidade pelo feminismo liberal. Acreditamos que o Womanismo, crítica ao feminismo pós-colonial no continente africano, também pode colaborar com o projeto de resgate da criticidade da categoria intersecionalidade."
ST08 - Com Amor: Narrativas de Mulheres Negras à Luz da Standpoint Theory
Norma Diana Hamilton (UnB) & Keila Meireles dos Santos (UEG) VER COMUNICAÇÕES
Problematiza as vivências/experiências e representações das mulheres negras à luz da Teoria do Ponto de Vista Feminista [Standpoint Theory] evidenciada nos trabalhos de feministas afro-estadunidenses como Kimberlè Crenshaw, Patricia Hill-Collins, bell hooks, dentre outras, e afro-brasileiras: Lelia Gonzalez, Sueli Carneiro, Luiza Bairros, e outras. Suas narrativas têm contribuído de maneira significativa para a epistemologia feminista, pois evidenciam a perspectiva das mulheres negras na construção da crítica aos conhecimentos dominantes, que convencionalmente se dão a partir da perspectiva eurocêntrica. A partir de 1970, a inclusão da temática de raça e racismo pelas ativistas negras na discussão do feminismo tem transformado a teoria feminista e seu objeto de estudo. Como a feminista afro-estadunidense Barbara Ransby (2000: 1218) nos explica, a teorização feminista negra parte do princípio de que “as noções de raça, gênero, classe, e sexualidade são variáveis interdependentes que não podem ser separadas ou classificadas nos estudos acadêmicos, nas práticas políticas, nem nas experiências vivenciadas”. Ao analisar a interdependência entre essas variáveis, tanto as feministas afro-estadunidenses quanto as afro-brasileiras revelaram como diferentes discriminações, relacionadas a identidades, estão interligadas nas experiências das mulheres negras. Termos como dupla opressão, “múltipla opressão”, e “interseccionalidade” são utilizados ainda hoje nos trabalhos de teóricas negras para analisar a opressão pluridimensional que atinge as mulheres negras. Escritoras afro-estadunidenses como Maya Angelou, Toni Morrison, Alice Walker e afro-brasileiras como Beatriz Nascimento, Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo, desde os anos 1970, também exploram em suas obras literárias a questão da violência e intersecção de discriminações racial, de gênero, de classe que sofrem as mulheres negras, e as potencialidades dessas mulheres de sobrevivência e transcendência de sua realidade opressora. Cabe ressaltar que uma das expressões da violência simbólica que acomete às mulheres negras é a ausência de amor, debatida ainda de maneira tímida. Neste sentido, a afetividade no âmbito da população negra, sobretudo, das mulheres negras precisa emergir como pauta fundamental de debate não apenas enquanto alternativa à violência racial e de gênero, mas sim, como instância libertária de descolonização da população negra. A recuperação desta população ao histórico processo de sofrimento acometido pelo racismo perpassa pelo ato e pela arte de amar, indica bell hooks, ao complementar que “muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público”. É a partir dessa realidade, que a afetividade de mulheres negras também se torna uma variável de suma importância dentro da Standpoint Theory. Com isso, as principais questões que exploramos nessa Seção Temática incluem: a construção de um contra-discurso nos trabalhos teóricos e literários das feministas afro-estadunidenses e afro-brasileiras para expor e denunciar as diferentes formas de opressão que enfrentam as mulheres negras em contextos sociais patriarcais e racistas; o resgate, nesses trabalhos, de identidades positivas para as mulheres negras, cuja resistência têm sido duradoura; e o modo em que as produções teóricas e literárias das feministas negras se distinguem das concepções normativas tradicionais, para articular as experiências híbridas das mulheres negras.
ST09- Por onde andam as Meninas/Mulheres negras? Perspectivas analíticas
e dialógicas sobre Identidade, Representação, Mídia e Negritude
Elbert de Oliveira Agostinho (CEFET – RJ) VER COMUNICAÇÕES
Esta Seção Temática tem como objetivo iluminar práticas discursivas que aludem às identidades negras, tendo como ponto de observação personagens negras (femininas) que foram construídas e inseridas em plataformas midiáticas (filmes, séries de tv, histórias em quadrinhos, desenhos animados), evidenciando quais são as novas referências para possíveis representações identitárias no qual meninas/mulheres negras possam se identificar. A proposta se debruça sobre uma abordagem investigativa, observando narrativas nas quais meninas/mulheres negras são apresentadas verificando o processo de construção – inserção – manutenção, levando em consideração que atributos de tais personagens contribuem para a promoção da igualdade racial, ou a reprodução de invisibilidade e subalternização de personagens negras. A partir de tal proposta, pretende-se também, examinar a estrutura e representação das identidades negras evidenciando o aspecto signico e sua representatividade, questionando como a presença das personagens negras são efetivamente configuradas, pois expõe valores, agendas culturais, políticas, expectativas, nesse sentido, os aspectos da identidade cultural formam-se através do pertencimento a uma cultura nacional, e com os processos de mudança as identidades podem ser deslocadas. Esses deslocamentos ocorrem também, dentro das plataformas midiáticas, ou seja, as personagens apresentam fluidez, sendo deslocadas em diferentes contextos. Entretanto, percebe-se a necessidade de questionar os espaços em que a identidade negra é impressa, pois, a identidade é relacional, e existem condições específicas para que ela exista. Portanto, a análise inicial sobre estas questões nos leva a percepção de que as identidades de personagens negras podem estar enclausuradas em uma objetividade esmagadora, ou seja, apesar de se compreender que as identidades se deslocam, observa-se a manutenção dos espaços em que as personagens negras ocupam, sua construção baseia-se em estereótipos que negligenciam o processo de representação identitária. Nesse sentido serão aceitas propostas que apresentem novas referências que dialoguem entre representação e representatividade, no sentido de apresentar possibilidades de construções identitárias que funcionem como referências para meninas/mulheres negras, desconstruindo estereótipos negativos, e reconfigurando imaginários sobre as meninas e mulheres negras nos circuitos midiáticos.
ST10 - Conceitos e métodos para a análise da interseccio-
nalidade de gênero e raça nos estudos migratórios eixo sul-sul
Gloria Maria Santiago Pereira (Unieuro) & Jose de Ribamar Sousa Pereira (UCB) VER COMUNICAÇÕES
Na contemporaneidade o impacto e intensidade do fenômeno migratório suscita debates que desafiam a práxis nos diferentes campos do conhecimento das ciências sociais e humanas. Assim, podemos citar algumas situações (próprias desse fenômeno), como: o afluxo de imigrantes africanos no território latino-americano; a migração forçada de indivíduos que sofrem perseguição por sua orientação sexual e/ou religiosa; a circulação global de indivíduos mediadas por tecnologias virtuais; feminização da migração; e as multiplicidades de trocas culturais, que geram identidades rizomáticas. Esses fenômenos socioculturais interrogam as teorias clássicas, instigam a produção de outros conhecimentos e desvelam saberes e práticas eclipsados pelo discurso canônico ocidental de verdade científica. Nesse sentido, ao mesmo tempo que a desordem material e simbólica produzida pela tensão entre o tradicional e o contemporâneo geram medo e angústia, também abrem espaços para vozes, que outrora foram silenciadas pelo colonialismo epistêmico e geopolítico do binarismo norte-sul. Portanto, este simpósio temático acolherá trabalhos produzidos no limiar dos conflitos socioculturais, na era da globalização, cujo objetivo é proporcionar outros caminhos e possibilidades à construção de um conhecimento reflexivo e situado no âmbito interdisciplinar dos estudos migratórios, no espaço latino-americano, em diálogo com saberes produzidos no contexto caribenho e africano. Também serão aceitas releituras conceituais e metodológicas de correntes teóricas tradicionais, desde que não evada da proposta do simpósio, que tem como enfoque a circulação de saberes sensíveis às dinâmicas socioculturais, no contexto da migração, eixo sul-sul, que leve em conta aspectos vinculados à interseccionalidade de gênero e raça. Impende mencionar que as diferentes formas de abordagens dos fenômenos socioculturais, em especial, relacionados aos estudos migratórios, possibilitam múltiplas análises estruturadas, que captam e realçam resultados válidos acerca da experiência social dos indivíduos e/ou grupos sob investigação. Nesse sentido, o simpósio também recepcionará propostas de trabalhos com metodologia qualitativa e/ou quantitativa, desde que a abordagem utilizada seja capaz de contemplar a realidade estável, mutável, de múltiplas categorias socioculturais (como de gênero, raça e nação) e que depreenda uma compreensão mais completa dos fenômenos considerados. Assim, o simpósio espera acolher trabalhos que contemplem o afluxo de imigrantes nos diferentes espaços geográficos eixo sul-sul e identifiquem padrões de violências e preconceitos produzidos nesses espaços que impactam no afluxo de imigrantes. Esses trabalhos podem, ainda, proporcionar uma reflexão que propicie a construção de uma ponte entre o preconceito e a violência e, dessa forma, expressar a consequente discriminação e exclusão por gênero e raça como categorias impulsionadoras do fenômeno da migração, sem olvidar a análise sob a perspectiva da interseccionalidade de formas de agenciamento e discriminação relacionadas às questões de gênero e raça, que interagem como modos de subordinação.
ST11 - Estudos de tradução & feminismos negros:
decolonialismo, intersecionalidade e mulheridades negras
Dennys Silva-Reis (UnB) & Cibele de Guadalupe (IFG) VER COMUNICAÇÕES
Américas, África e Ásia compartilharam em suas histórias a experiência de dominação e opressão implementada pela empresa colonial. Na colonialidade, em suas diferentes expressões, raça e gênero foram os aspectos por sobre os quais a subjugação do colonizador mais pesou sobre o colonizado. Desta forma, as mulheres negras foram mantidas sempre em posição identitária, social, econômica e cultural invariavelmente abjeta. À mulher negra coube, então, resistir e insurgir contra a dupla e diuturna opressão que lhe impunham, a de gênero e a racial. Assim, mesmo engajadas em movimentos de liberação: a independência colonial, a luta antirracista, e o feminismo, as mulheres negras não tinham suas lutas e especificidades respaldadas nas pautas gerais de tais movimentos. No caso do movimento feminista, o chamado feminismo negro surge para endereçar as pautas específicas da mulher negra, a partir de sua posição dentro da estrutura social e das experiências de vida compartilhadas, em uma existência duplamente alijada e silenciada. Inclusive será no feminismo negro que surge o conceito de mulheridades negras, que abrange o conceito de mulher para além do reducionismo biológico. No campo da tradução e interpretação, historicamente a atividade foi exercida majoritariamente por homens brancos e as contribuições de homens negros e mulheres – brancas e negras – invisibilizadas. Não obstante, linhas de estudo como a Teoria Decolonial tem gestado, também na área da Tradução e Interpretação, o posicionamento, a atitude e a luta pela identificação e visibilidade de ‘lugares’ de exterioridade e construções alternativas na América Latina. Somado a isso, a Teoria da Interseccionalidade traz novos olhares para as complexas relações entre Estudos de Tradução, identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação. Exemplo disso são os problemas encontrados no tange à norma padrão, ao preconceito linguístico, à hipercorreção, à revisão e publicação de (re)traduções, bem como à representação e à representatividade da tradução ou dos tradutores e tradutoras/intérpretes na mídia, na literatura, na narrativa historiográfica, na academia e no mercado de trabalho. Nesse sentido, propomo-nos, nesta Seção Temática, a retomar as discussões anteriores – a saber, em 2014, na terceira edição do evento, em que discutimos a “escrita tradutória negra: traduções e tradutores”; e em 2016, na quinta edição, quando "Tradução e Diáspora Negra: entre decolonialismo e antirracismo" foram problematizados. Para a edição de 2018, focalizamos a tradução (escrita ou oral) de, por e para mulheres negras. Portanto, pretendemos entender quem são as tradutoras/intérpretes negras, o que traduzem, como traduzem, para quem e de onde o fazem. Além disso, almejamos alargar o debate para o campo da representatividade e da representação – seja na ficção, na mídia, nas artes, na narrativa historiográfica, no mercado de trabalho, na academia, o que de fato se sabe, se fala, se imagina e se estuda sobre tradutoras/intérpretes negras e traduções de autoras negras. Assim, serão acolhidos trabalhos que versem sobre tais temas, contribuindo para o aprofundamento do debate e, igualmente, relatos de experiências de tradutoras, legendadoras, dubladoras e intérpretes negras ou de agentes de tradução traduzindo produtos de autoria feminina negra.
ST12- A resistência pela prática pedagógica: raça, gênero e sexualidade em sala de aula
Jaqueline Aparecida Barbosa (SEEDF) & Aldenora Conceição de Macedo (SEEDF) VER COMUNICAÇÕES
Estamos vivenciando momentos ímpares de investidas antidemocráticas e conservadoras na educação formal. Temas como a diversidade e os direitos humanos, que a duras penas e com atuação determinante dos movimentos sociais foram incorporadas aos documentos norteadores e legislações educacionais, têm sofrido ataques originados no meio político e disseminados de maneira imprudente e tendenciosa pelos meios de comunicação e mídias sociais. Implementar uma educação antirracista, educar para a equidade de gênero ou trazer o debate sobre sexualidade para a sala de aula tem sido visto como doutrinamento, quase subversividade, em contrapartida a um currículo orientado por uma visão eurocêntrica e excludente, que segue exaltado como correto e imparcial. Práticas pedagógicas que respeitem preceitos legais determinantes para a educação diversa e laica vêm sendo contestadas e sendo alvo, inclusive, de retaliações. Neste cenário, desejamos que esta Sessão Temática se constitua como um espaço no qual a resistência docente e a certeza da necessidade de se continuar trabalhando em prol de uma sociedade mais crítica e menos segregadora possam ser celebradas e fortalecidas. Resumindo, propomos pensar a educação em tempos de golpe, ainda que saibamos que os desafios enfrentados pela educação para a diversidade são perenes. Nossa proposta se insere no campo de estudos sobre raça e diversidade na educação e parte do pressuposto de que a prática pedagógica vigente em nossas escolas ainda não alcançou o patamar desejado de atenção a tais questões e, dessa maneira, nega o direito humano à diferença. Assim, levando em conta a abrangência, riqueza e interseccionalidade intrínseca à questão racial, nos atentamos, também, para as temáticas de gênero e sexualidade. Receberemos propostas que, dialogando com tais questões, apresentem os conflitos e complexidades de se trazer esse debate para a escola, assim como análises sobre a (re) produção das desigualdades raciais, de gênero e sexualidade no cotidiano escolar. As comunicações apresentadas podem ser relatos de experiências vivenciadas no ambiente escolar, apresentação de trabalhos frutos de pesquisas acadêmicas, projetos desenvolvidos nas instituições de ensino e afins. Estaremos abertas, ainda, às propostas advindas de iniciativas de educação popular. Pretendemos reunir nesta Sessão Temática membras/os da sociedade civil, estudantes, pesquisadoras/es e professoras/es de todos os níveis da educação básica e superior, pois acreditamos que os diálogos, trocas de experiências, ideias e informações são, no momento político em que nos encontramos, mecanismos de resistência na busca pelo direito à educação de qualidade e contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
ST13 - Gênero, Direitos Humanos e Interseccionalidades
Heloisa Helena de Oliveira Santos (IFRJ) & Lívia Paiva (IFRJ) VER COMUNICAÇÕES
Uma abordagem das questões de gênero fora de uma perspectiva que cruze os elementos de classe e raça, atualmente, se revela, em muitos sentidos, reducionista. O mesmo ocorre no campo de análise da garantia/violação dos Direitos Humanos: analisar as questões em torno do modo como as mulheres negras são aproximadas ou alijadas destes direitos demanda uma perspectiva que considere não apenas as opressões de gênero, mas também aquelas de raça e classe. Assim, neste Seminário Temático estaremos discutindo a área dos Direitos Humanos não a partir de uma perspectiva legalista e centrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas sim de uma perspectiva sociocultural e histórica, que insere as lutas das mulheres por emancipação, identidade e direitos, de modo mais amplo, como um processo de transformação que questiona o sujeito universal dos direitos humanos. Desta maneira, receberemos e discutiremos trabalhos que, a partir da análise de diferentes objetos de pesquisa, abracem a temática do acesso/violação dos direitos considerando o potencial criativo/empoderador, de um lado, e os desafios e opressões, de outro, próprios dos sujeitos que vivenciam diariamente em suas vidas às resultantes deste cruzamento entre gênero, raça e classe, assim como as violências presentes na vida de pessoas não heterossexuais e cis. Discutir linguagens artísticas diversas se encontra em nosso escopo: a abordagem de experiências literárias, musicais, teatrais e todas as demais expressões culturais utilizadas como ferramentas empoderadoras serão recebidas nesta mesa. Reconhecendo os diferentes mecanismos de violência, também é do interesse deste ST abordar os modos de opressão engendrados pela sociedade capitalista, no Brasil, na América Latina e no mundo, que recriam e reproduzem o massacre das mulheres nas sociedades com histórico colonial. De outro lado, os trabalhos que abordam o diálogo Sul-Sul e desnaturalizam abordagens desagregacionistas também estão compreendidas neste seminário temático. Assim, pesquisas que visem abordar a questão do acesso/violação dos direitos a partir de perspectivas afrocentradas/afrodiaspóricas ou, reconhecendo as devidas limitações, pós-coloniais ou decoloniais também são de grande interesse deste ST.
ST14 - Experiências de interlocução, leitura e escrita em contextos educativos:
O que nos ensinam as narrativas de mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais?
Cristiane de Assis Portela (UnB/ SEDF/ CEUB) & Bruna Paiva de Lucena (SEEDF) & VER COMUNICAÇÕES
Valéria Gomes Borges Vieira (UnB)
Parte integrante das ações do grupo de estudos Autoria de Mulheres, Pedagogia Engajada e suas Interseccionalidades, que reúne pesquisadores da Secretaria de Educação do DF, da Universidade de Brasília e do Centro Universitário de Brasília, esta Seção Temática pretende ser espaço de interlocução para pesquisas acerca da autoria de mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais, seus procedimentos narrativos de autorrepresentação, bem como os processos de leitura e escrita em contexto escolar elaborados a partir de pedagogias fundamentadas na autonomia, na resistência e na transgressão. Pretende-se movimentar um conjunto de problemas significativos para se pensar as narrativas afro-indígenas-brasileiras, o potencial contra-hegemônico da presença destas autoras e os questionamentos epistemológicos trazidos ao universo da leitura e da escrita de maneira mais ampla, o lugar da memória, da história e das escritas de si, do corpo e de seus deslocamentos por fronteiras nacionais e locais, o debate sobre a violência, a justiça, a ética, a identidade étnico-racial, de gênero e de classe, a posição da crítica e da educação escolarizada no cenário atual. Embora as abordagens possam ser múltiplas, o eixo que unirá os trabalhos será a preocupação com a reverberação das vozes destas mulheres em sala de aula e outros contextos educativos, as instâncias legitimadoras daquilo que pode ser reconhecido como material didático e a abertura para o diálogo com outras expressões autorais, sejam elas produzidas em narrativas literárias de base oral ou escrita, textos acadêmicos ou obras em diferentes suportes, como o audiovisual e as artes em geral. Alinhado com a proposta do Grupo de Estudos acima citado, nos interessam, em especial, análises que estabeleçam interlocuções teórico-conceituais com bell hooks e Glória Anzaldúa e, do ponto de vista da análise discursiva, pesquisas ou relatos de experiência que tomem como objeto as narrativas de Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Eliane Potiguara, Scholastique Mukasonga, Cristiane Sobral, Meimei Bastos e os títulos organizados pela jornalista canadense Deborah Ellis. Interessa-nos muito também reunir trabalhos que se debrucem sob as produções de mulheres oriundas de diversas comunidades tradicionais brasileiras como quilombolas, pescadoras, ciganas, quebradeiras de coco, geraizeiras, retireiras, ribeirinhas, assentadas, extrativistas etc.
ST15- As representações das mulheres negras no cinema
e na literatura na perspectiva dos feminismos negros
Renata Melo Barbosa Do Nascimento (UnB) VER COMUNICAÇÕES
Este Simpósio Temático tem como perspectiva discutir as representações das mulheres negras difundidas no Cinema e na Literatura. Propõe-se análises a partir dos estudos feministas, de gênero e raça, com ênfase nas vertentes dos feminismos negros e dos feminismos pós-coloniais/decoloniais, de modo a observar os pressupostos em que se ancoram estas representações, enfatizando as suas condições de produção. Trata-se, portanto, de apreender confluências quanto às imagens e lugares atribuídos às mulheres negras, desvendando conexões históricas e culturais. Por outro lado, busca-se apreender também a variabilidade e as divergências na maneira como as mulheres negras são retratadas nas obras cinematográficas e literárias, com atenção às ênfases de cada autor/a. Busca-se a desnaturalização e o desvelamento do caráter histórico e cultural das representações, permitindo que outras representações possam ser construídas e veiculadas, pondo em questionamento linguagens e imagens que foram tomadas como verdadeiras e naturais acerca das mulheres negras no Brasil. Permite ainda a compreensão de que as mulheres negras são sujeitos com subjetividades plurais e múltiplas, que não são fixas ou permanentes, e que, portanto, se transformam e se relacionam com vários outros aspectos da vida social, bem como a: classe, a raça, a profissão, a geração, as religiosidades, a sexualidade, dentro outros. Vale ilustrar por exemplo, que a literatura do século XIX, de um modo geral, produziu e disseminou uma série de representações das mulheres negras que fortemente povoam o nosso imaginário social. Em muitos dos escritos que ganharam então destaque, predominaram imagens de mulheres submissas, subservientes, promíscuas e ignorantes. Obras como as de Aluísio de Azevedo, José de Alencar e Bernardo de Guimarães, ilustram muito bem estas imagens, construídas e posteriormente reiteradas no cinema nacional. A constante reiteração, repetição de representações que reforçam a inferioridade, submissão, opressão, exploração sexual e do trabalho dos/as negros/as, seja na literatura, no cinema (histórico ou de ficção), ou na própria historiografia, acabou legitimando e reforçando a discriminação e o preconceito racial e sexual em nossa sociedade. Os estudos feministas direcionados às mulheres negras no Brasil têm revelado outras representações de suas subjetividades e experiências históricas, em busca da pluralidade de suas experiências e da desnaturalização de representações depreciativas e estereotipadas que historicamente marcam suas relações sociais. Tais estudos apontam para o caráter histórico, político e social destas representações, ao mesmo tempo em que buscam revelar outras possibilidades de atuação para estas mulheres na história, ou seja, imagens que promovam uma ruptura com aquelas que naturalizam e estigmatizam os saberes e práticas destas mulheres negras, portanto, em pleno século XXI essas análises se fazem necessárias, pois o Cinema e a Literatura são ferramentas fundamentais para a construção e/ou desconstruções de certos imaginários.
ST16 - Pensar a produção intelectual: saberes negros em encruzilhada
Aline Maia Nascimento (UFRJ-Museu Nacional) & VER COMUNICAÇÕES
Humberto Manoel de Santana Júnior (PPGCS/Unicamp - IFB)
É notório que “Enclausuramento Epistemológico” vivenciado por intelectuais e ativistas africanos e afrodiásporicos prejudica em escala elevada o florescimento de um pensamento anti-colonial e, consequentemente, de uma prática política produzida para libertação de povos subalternizados. Preocupados em evidenciar essa problemática num plano acadêmico, mas também político, esta sessão temática foi pensada como um espaço de interlocução e diálogo de pesquisadores/as e ativistas que de alguma forma trabalhem na formulação de narrativas e epistemes destoantes do modelo Eurocêntrico do saber. O que defendemos enquanto epistemologia destoante são aqueles saberes que se encontram na “dobra” conceitual e explicativa da produção de conhecimento tradicional construindo, portanto, análises de seu objeto de forma não-revisionista, mas inovadoras do ponto de vista de conceber o mundo e os processos de experiências africanas e afro-diaspóricas que nele habitam (NASCIMENTO, 2017). Assim, a proposta é reunir produções intelectuais e ativistas que tenham encontrado nas matrizes epistemológicas consideradas “subalternas”, “destoantes”, “africanocentricas”, “decoloniais” ou “outras” base de inspiração e (re)criação para seu fazer acadêmico. Buscaremos acolher propostas que contemplem uma abordagem interessada em promover o desmonte do monopólio da supremacia branca no conhecimento acadêmico. Interessa-nos trabalhos que dialoguem com novos conceitos, estilo de escrita, técnicas, metodologia de análise e/ou que se sustentem em teorias que destoem do modelo tido como “exemplar”. Esse repertório deve servir tanto para repensar criticamente os pressupostos e instrumentos analíticos da produção acadêmica, quanto para oferecer horizontes interpretativos que auxiliem no trato com as inovações e diferenças trazidas pelas cosmovisões negras ou indígenas frente aos dilemas resultantes das constantes transformações do mundo.
ST17 - Comunicação e Direito: Perspectivas das Relações Raciais
Kelly Tatiane Martins Quirino (UnB) & Walkyria Chagas da Silva Santos (UnB/UFBA/UFSB) VER COMUNICAÇÕES
Este ST tem por objetivo receber estudos de relações raciais dentro do campo da Comunicação e do Direito. O conceito de Comunicação é tornar comum, desta forma, no campo da Comunicação podem ser encaminhadas pesquisas nas áreas de jornalismo, mídia, publicidade, redes sociais, ou outras mídias, que dão visibilidade (ou não) à pauta racial. Historicamente, a temática racial aparece nos estudos de Comunicação sob temas como representação dos negros no rádio e na TV e por meio de análise de conteúdo, nos jornais impressos, para identificar como os jornais pautam o dia da consciência negra, as políticas de ações afirmativas e nos últimos tempos, a violência contra os jovens negros. O diagnóstico de que a mídia brasileira é racista e estigmatiza a população negra, as pesquisas acadêmicas já demostraram. O desafio é propor novas narrativas, para o campo da Comunicação, se tornar efetivamente um espaço de desconstrução do racismo e de valorização da pessoa negra, e consequentemente, da cultura afro-brasileira. Por conseguinte, o Direito, ao mesmo tempo que é um instrumento de defesa, também é utilizado como um elemento das ideias colonizadoras, auxiliando na pilhagem de direitos das minorias. Algumas pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas buscaram demonstrar a importância do negro na elaboração de leis, na conquista de políticas públicas e na garantia de direitos. Por outro lado, os pesquisadores têm colocado em evidencia como o Direito Penal e a Criminologia são contaminados por elementos racistas e que tais elementos são utilizados para violar o corpo negro. É preciso, portanto, pensar no Direito a partir da vida social, numa proposta emancipatória, que respeite a cosmovisão dos “novos” sujeitos de direitos, como os indígenas, os quilombolas e demais “novos” movimentos sociais. Assim, no campo do Direito, podem ser encaminhadas pesquisas numa perspectiva de descolonização do Direito e ampliação do debate para as questões raciais.
ST18 - Mulheres negras na centralidade da saúde:
interseccionalidade de gênero e raça nos serviços públicos
Marjorie Chaves (UnB) & Andrea leite Ribeiro (UnB) & VER COMUNICAÇÕES
Mariana Fernandes Rodrigues Barreto Regis (UnB/ NESP)
A área de conhecimento denominada “saúde da população negra” constitui o campo em que as relações entre raça e saúde vêm sendo objeto de reflexão e intervenção política. Neste campo, as condições de saúde de mulheres negras merecem especial atenção, uma vez que as representações sociais negativas sobre seus corpos informam a maneira como são vistas e a consequente desigualdade de acesso aos direitos em saúde: negligência, insultos e má qualidade dos serviços. É preciso reconhecer que as discriminações de raça, gênero, classe e outros marcadores sociais não são fenômenos mutuamente excludentes e estão relacionadas às diversas formas de violência e riscos de saúde. Considera-se que, na oferta dos serviços públicos de saúde, há a limitação de acesso e/ou a não garantia de direitos universais das mulheres negras. Tal situação marca o processo de luta das mulheres negras no Brasil por melhores condições de saúde, como bem apresentado no Manifesto da Marcha das Mulheres Negras 2015 contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver. O objetivo da atividade é acolher propostas que abordem os diversos aspectos da saúde das mulheres negras, considerando o racismo como determinante no acesso e qualidade dos serviços de saúde. O referido ST propõe a discussão sobre o papel dos feminismos negros na reivindicação de políticas públicas que visem dirimir a desigualdade entre usuárias negras e brancas no atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS); a necessidade da abordagem do racismo nos instrumentos legais de combate à violência contra as mulheres, uma vez que este também constitui fator de produção desta violência; a relação entre as vivências afetivo-sexuais e a saúde mental de mulheres negras, na compreensão de que as práticas de autocuidado são importantes geradoras bem-estar.
ST19 - Mulheres quilombolas e perspectivas afrocentradas:
agências, política e produção do conhecimento
Leandro Santos Bulhões de Jesus (UnB) & Joelma Rodrigues da Silva (UnB) VER COMUNICAÇÕES
É inegável a atuação das mulheres quilombolas na constituição e permanência de suas comunidades. Suas atuações ultrapassam os limites dos papéis de gênero ditos “tradicionais” e revelam que são elas a maioria nas lideranças políticas das Associações das comunidades e nas representações institucionais. Entendemos que, embora o patriarcado e o machismo sejam facilmente encontrados nas comunidades quilombolas, como em toda a sociedade brasileira em geral, podemos identificar elementos que expressam a permanência de tradições, práticas, posturas e conhecimentos com origens nos matriarcados africanos, heranças das diásporas negras, aqui atualizados. Esta assertiva pode ser um elemento orientador de outras interpretações, que pode revelar outras histórias, estratégias e potencialidades que muitas vezes escapam aos olhares eurocentrados, que ainda formam nossos imaginários, as formas de pensar o mundo e a produção de conhecimentos nas universidades. Nesse sentido, os trabalhos de Cheik Anta Diop, Nah Dove, Molefi K. Asante, Ama Mazama, Abdias do Nascimento, Beatriz Nascimento, Reiland Rabaka, Givânia Silva, Antonio Bispo, Oyèrónké Oryéwùmí, entre outros, podem ajudar na elaboração de outros sentidos sobre as agências das mulheres quilombolas, tanto nas suas comunidades como para além delas (nas Associações, na religiosidade, na saúde, na educação, na economia, nas redes entre quilombos etc). A partir dos diálogos com as perspectivas consideradas afrocentradas, pretendemos, juntamente com as mulheres quilombolas, visibilizar e ajudar na ampliação desses debates e na produção de conhecimentos sobre os temas relacionados nesta Seção Temática. As discussões poderão incluir sujeitos quilombolas ou não quilombolas que fazem parte de movimentos sociais; pesquisadoras/es; professoras/es; profissionais de outras áreas.
ST20 - Corporeidade e processos pedagógicos decoloniais:
articulações para uma educação antirracista
Larissa Ferreira (IFB) & Jonas Sales (UnB) & Nadir Nóbrega (UFAL) VER COMUNICAÇÕES
Na construção do conhecimento ocidental, saberes negros e indígenas tiveram seus espaços de ação negados. O conhecimento praticado nos espaços formais de educação constitui-se principalmente a partir de conteúdos com apelo eurocêntrico e protagonismo branco. Nesse contexto, o pensamento decolonial, corrobora para pautar uma educação antirracista desde a reivindicação do deslocamento de centros epistêmicos hegemônicos. Diante da necessidade de valorizar as narrativas negadas neste processo excludente de uma educação dita universal (desde o modelo europeu branco), essa Sessão Temática interessa-se por experiências educacionais com proposição antirracista. A ênfase na corporeidade denota não somente um processo que se volta para a construção indentitária, mas também para as práticas no campo das pedagogias da dança, teatro e performance. Vale ressaltar que as propostas podem ser relacionadas à educação formal e não formal, pautadas no diálogo entre espaços acadêmicos e não acadêmicos. O que inclui também processos educacionais praticados em terreiros e movimentos sociais e comunidades tradicionais, que incluam articulações corpóreas que dialoguem com as artes cênicas, performáticas e a dança. Nesse sentido, convidamos a problematizar os espaços formais de educação como espaços únicos de formação. Assim como a prática de pedagogias decoloniais, tais como a abordagem das práticas orais como fundamental para a construção de saberes que foram invisibilizados, justamente pelo fato de suas corporeidades e epistemes serem compostas por tais práticas orais. Diante destas violências praticadas contra os pensamentos negros, indígenas e afroreferenciados, espera-se que essa Sessão Temática colabore para as discussões sobre pedagogias decoloniais e educação antirracista em espaços formais e não formais.
ST21 - Descolonizar é (ensino) Fundamental:
Práticas Artísticos/pedagógicas
Arilma Girassol (SME – Natal) VER COMUNICAÇÕES
A proposta temática objetiva criar um espaço circular de partilha das experiências tecidas no contexto escolar, acolhendo idéias, sentimentos, proposições, eventos, questionamentos aflorados no cotidiano da sala de aula e que de um certo modo potencializa momentos de reflexão sobre feminismo, negritude, subjetividade e corporeidade. Sendo assim, convida a todXs: alunos, gestores, coordenadores, professores, pesquisadores, estagiários, ex-pibidianos. Consequentemente, atores sociais que co-implicados desde a experiência se tornam protagonistas e tecem saberes, reinventam outras lógicas de ensino na rede pública e que ao tensionar vislumbra por avanços nesse ambiente formal, tradicional, engessado, (hetero)normativo. É na escola que crianças, adolescentes e professores passam parte do seu dia e até permanecem em tempo integral invisibilizados. A nova geração já afirma que a escola atual não é interessante, ademais, desvela-se como lócus de reprodução de racismo, atitudes machistas. Além disso, a falta de infraestrutura de algumas não proporciona espaços de convivências entre os alunos. Por conseguinte, a alteridade nunca é um assunto em pauta, as disciplinas de outrora, português e matemática, seguem na prioridade do currículo escolar. Pensando nisso, os atores sociais de diferentes áreas de conhecimentos muitas vezes questionam a permanência do ensino tradicional nas escolas públicas, entretanto, quando se propõem a pensar outras metodologias que evidencie a autonomia dos alunos. Sendo assim, protagonistas (professores, alunos) que sistematiza seus saberes e produzem conhecimento, para além da metodologia conteudista e tecnicista de ensino, modelos estes que não lhe dão tempo/espaço de pesquisar/refletir/narrar sobre suas experiências. É chegada a hora de reorganizar suas práticas, pensar em recriar espaços de diálogos, uma vez que são recorrentes os temas transversais, pensando também na diversidade da turma e a quantidade de alunos por turma. Falar de escola também é abordar corpo, práxis, comunidade, subjetividade. Tais inquietações surgem na minha formação como aluna, estudante, pesquisadora e professores de diferentes esferas públicas, sinto-me motivada a convidar outrXs a pensar nessa ESCOLA PUBLICA que pouco ou nada tem mudado em qualidade de ensino, na projeção dos alunos (em sua maioria são negros e negras) e valorização de professores e professoras para ampliar a perspectiva de todXs. Em recente pesquisa de mestrado, no Programa de Pós-Graduação DANÇA UFBA, intitulada: PIBID DANÇA na UFBA e na UFRN: POLÍTICAS DE COOPERAÇÃO na EXPERIENCIA DOCENTE, na análise de quatro escolas, duas em cada cidade, constatei que as práticas artístico-pedagógicas dos pibidianos inseridos no programa, era um dos poucos momentos na sala de aula que crianças e adolescentes vivenciavam pela arte outros aprendizados
ST22 - Educação antirracista: racismo e a experiência escolar
Éllen Daiane Cintra (SEEDF /UnB-Neab) & Raquel Rosário (SEEDF ) VER COMUNICAÇÕES
& Cilene Vilarins Cardoso da Silva (SEEDF /UnB-Neab)
O racismo e a discriminação no universo escolar não são uma temática recente. As práticas de racismo fora dos muros escolares são cotidianamente reproduzidas no ambiente educacional. O histórico da discriminação contra mulheres negras e homens negros, oriundos dos eventos escravistas que ocorreram no passado, ainda se refletem na atualidade. Destaca-se que tais práticas discriminatórias resultam da construção de um imaginário perverso sobre a população negra e não branca, que subalterniza indivíduos e resulta na pauperização de suas condições de vida. Eles seguem permeando os discursos, as práticas escolares e a construção dos currículos ao longo da história, resultando em preconceitos, intolerância e evasão escolar, entre outros. A presente sessão temática busca discutir trabalhos que reflitam sobre a construção, percepção e vivências do preconceito e racismo no ambiente escolar na educação básica. Considerando os processos de racialização que norteiam as relações sociais dentro e fora da escola, propõe-se refletir sobre as experiências de discriminação racial de crianças e jovens negras e negros das diferentes etapas e modalidades de ensino. Entende-se, também, o caráter dual tanto da educação brasileira quanto da escola, e, assim, busca-se refletir sobre as dimensões de poder, empoderamento e exclusão, entre outros, que perfazem o processo de aprendizado da população negra. Ademais, interessam as experiências de luta antirracista e a emancipação dos indivíduos a partir do olhar de professores e estudantes, considerando as diferentes intersecções que marcam as experiências dos indivíduos negros no país. Por fim interessa conhecer e refletir sobre novas metodologias de pesquisa e ação que corroborem com a luta e a educação antirracista.
ST23 - Sernegra na Educação Básica: da identidade do/a
professor/a negro/a às identidades raciais e de gênero dos/as educandos/as
Alessandra Pio Silva (UFRJ) & Celia Regina Cristo de Oliveira & Fabiana de Lima Peixoto (UFSB) VER COMUNICAÇÕES
A partir da nossa atuação como docentes negras na Educação Básica e do diálogo teórico em torno de como o racismo à brasileira dá forma a práticas educativas excludentes, conforme os estudos de Nilma Lino Gomes (1995), Eliane Cavallero (2003), Sueli Carneiro (2005), Kabengele Munanga (2004), Antonio Sérgio Guimarães (1999), esta Seção Temática objetiva levantar discussões teórico-metodológicas acerca da corporalidade dos sujeitos envolvidos nas dinâmicas educativas, através de processos que envolvem tanto as identidades raciais de professoras e professores negros quanto o processo de construção de identidades raciais e de gênero dos educandos. Na medida em que a diáspora africana no Brasil se construiu em meio a um ideal de branqueamento, que acabou por criar uma espécie de racismo profundamente calcado em características fenotípicas, sobretudo a partir da inferiorização das tonalidades escuras de pele, do cabelo crespo ou carapinha e de outras características físicas consideradas passíveis de serem classificadas, impõe-se a necessidade de um simpósio destinado a dar centralidade ao corpo negro e ao racismo estético em espaços educativos. Compreendemos, com Cuche (1999), que a cultura é resultado de vivências concretas de visibilidades na forma de conceber o mundo e que, se percebemos que isso é construído, podemos interferir nesse processo, mudando os resultados. Como, infelizmente, na educação brasileira, o processo de subalternização do corpo da população negra implica também dúvidas acerca do valor das negras e negros enquanto sujeitos cognoscentes e produtores de conhecimento, o/as participantes deste ST trocarão trabalhos acadêmicos, ideias, propostas e projetos educacionais tanto acerca do racismo e de práticas discriminatórias que perpassam a educação e espaços formais e informais quanto dos processos de humanização e construção de identidades raciais e de gênero do/as educadores e educando/as.
ST24 - Descolonizando a Comunicação:
perspectivas negras para o cinema e o jornalismo
Aida Rodrigues Feitosa & Juliana Cézar Nunes (UnB) VER COMUNICAÇÕES
A Seção Temática " Descolonizando a Comunicação: perspectivas negras para o cinema e o jornalismo" pretende receber trabalhos que proponham leituras e referências para além da visão centrada no pensamento europeu-colonial. Ao buscar um entendimento mais autônomo do jornalismo e do cinema, a ST tem o intuito de fomentar uma epistemologia liberta dos velhos padrões coloniais e que dialogue com o presente e com o futuro a partir de uma perspectiva centrada nas Américas, na diáspora e no continente africano. Nesse contexto, o campo da comunicação é fundamental para a construção de um entendimento de mundo plural e inclusivo, liberto das amarras coloniais. Interessa para esta seção, especialmente, pesquisas que se baseiem em perspectivas de autores como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento, Muniz Sodré, Joel Zito Araújo, Clóvis Moura, Stuart Hall, Spike Lee, Franz Fanon, entre outros. Compreendemos que uma base epistemológica afrocentrada é fundamental para que possam surgir temas e soluções para processos comunicacionais pertinentes à população negra. Tanto na produção cinematográfica, quanto na produção jornalística, as referências negras contribuem para novas perspectivas teóricas, metodológicas e artísticas. Essas reflexões têm ainda o potencial de fortalecer a identidade étnico-racial de pesquisadores e pesquisadoras, que vivenciam o racismo acadêmico em seu cotidiano. A partilha e o debate sobre referenciais negros revelam caminhos já percorridos e a percorrer nos estudos em comunicação. Uma nova linguagem de ação política e comunicacional pode ser desenvolvida com base em práticas culturais historicamente silenciadas pelos detentores do poder político e econômico. Entendemos que as pesquisas em jornalismo e cinema devem se empenhar em seguir mapeando, dando visibilidade e apoio a ações engendradas pelas comunidades negras, quilombolas e sua rede de parceiros, a partir de perspectivas afrocentradas, até para que essas experiências possam ser utilizadas para o empoderamento de outros grupos sociais da diáspora africana nas América e no Caribe assim como no continente africano.